Quantas vezes mais morreria por aqueles ombros? Sessenta e oito vezes adoeceria só de olhar. Consumiria em brasa a ideia de um perfil inteiro à meia luz. E não se trata apenas de fotografia mas toda maneira como se move. A pose de ventania nos cabelos semi-presos, entregues à paisagem. A delicadeza se tornando bruta, eu me tornando espuma em sua margem...
Meu Chafariz quer ser chuva, romper o cimento e atravessar a estrada, deixar de ser monumento, de vigiar auroras. Quer desaguar nos mangues, marujar a letra fresca de jangada. Quer mover o tempo, se livrar da hora. Meu Chafariz, ao árvore ser, quer renascer do lodo de sua borda.
Naveguei as pestanas da vida como se em correnteza me guiasse por folha. As pedras mais moles rolaram por meu limo até as margens do livro. A chuva avisa que não descansa de infiltrar o poema Jorro inundante de doença, palavra respiratória.
Quero a palavra que sirva no boca de um lagarto A palavra pegajosa despida de proeza metafórica Aquela que rasteja a aspereza da própria cauda A palavra imprópria, desapropriada, ancorada no vazio, sem asas. imagem: Marta Barros