Ainda tenho meia hora.
Carrego o dia como quem
está à beira de um minuto
que não chega e nem acaba.
Diálogo entre o impossível de
ser dito e o censurado.
Dia lógico para todos,
para mim,
parágrafo.
Escher.
Chafariz
sábado, 9 de dezembro de 2017
Espelho d'água
Me atravessei de verde
ao abrir sua alma de folha.
Vi a mim mesma refletida
por entre as algas de seu rio.
A corrente que nos leva da beira é a mesma...
Mergulhemos, pois, nossas águas
com a coragem dos peixes!
ao abrir sua alma de folha.
Vi a mim mesma refletida
por entre as algas de seu rio.
A corrente que nos leva da beira é a mesma...
Mergulhemos, pois, nossas águas
com a coragem dos peixes!
Corpo de Vento
Vento,
o que vem dizer
ao pé do ouvido
que hesito?
Existo e sei disso
porque te sinto.
Visto a palavra
que minto,
que em mim
outro sentido
in vento.
Roberto Martini - "Corpo de Vento"
segunda-feira, 3 de abril de 2017
Sinédoque
Entre amor e poesia
uma pausa.
Um vazio decola
Um vazio decola
de lugar algum.
Nenhum nome que o
traduza ou metonimize.
Sinédoque de um pelo outro,
parte pelo todo,
pelo púbico, palavra.quinta-feira, 9 de março de 2017
Des-curso
Bate à pedra a palavra.
no ofício de dizer.
Chega não licenciada,
arranca da sintaxe sua roupa,
me violenta.
Verbocídio que prediz, me deduz.
Conduz a fala no silêncio
do que não quer dissolver.
Dito atônito, antitético,
minha dicotomia.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
Falasser n.2
a cadeia significante
em nódulo de letra,
a imagem resultante
talvez salvasse
o mal-dito-fala-ser.
Escreveriam ventos soltos
de som e sucata de sentido.
Pinceladas de palavra nenhuma,
rastro de voz por dizer.
Max Ernst. Célèbes or Elephant Célèbes. 1921
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
Palavrite
Sentido, ressentido,
remoído ao descaso das palavras.
Insistência de nome próprio
em maltratar o corpo
que já não se sabe
um ou outro.
[Vão esforço de arrancar
[Vão esforço de arrancar
ou distrair]
O que dói é letra inscrita
do existir
imagem: Joan Miró. The Carbide Lamp. 1922-23
imagem: Joan Miró. The Carbide Lamp. 1922-23
domingo, 30 de outubro de 2016
Mátria
Aqui, desde ontem,
como se agora o depois
em prática de olhar
se vestisse,
apropriada pelo furo
de não entender nada.
Insisto livrar-me do anseio
de predizer
as coisas que me invadem
e não tem pátria,
enquanto eu:
Língua mãe!
imagem: Pablo Picasso. Nude on a Beach. 1929
como se agora o depois
em prática de olhar
se vestisse,
apropriada pelo furo
de não entender nada.
Insisto livrar-me do anseio
de predizer
as coisas que me invadem
e não tem pátria,
enquanto eu:
Língua mãe!
imagem: Pablo Picasso. Nude on a Beach. 1929
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Língua estrangeira
Ando só,
estrangeira à palavra.
Passeio no idioma que
ouço em notas de batuque
(Ando só porque só sei andar)
Exercício de ser em estado
de língua que não será decifrada.
Trabalho-me poema a
reduzir fonema
em pó.
imagem: René Magritte
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
sábado, 1 de outubro de 2016
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
Meditação
Te convido aonde
rosas se abrem.
Deixemos a matéria falar.
O sol acaba de pincelar
seu traço de luz sobre o nada.
Podemos também nos
render ao vazio.
Retornar a palavra ao devido
estado de coisa nenhuma.
Deixar os preconcebidos
anseios de nomear.
Aqui ficamos, em roupa de pétala.
Amanhã terra ínfima,
detida por resistências.
Henri Matisse. Le bonheur de vivre . 1905-1906
rosas se abrem.
Deixemos a matéria falar.
O sol acaba de pincelar
seu traço de luz sobre o nada.
Podemos também nos
render ao vazio.
Retornar a palavra ao devido
estado de coisa nenhuma.
Deixar os preconcebidos
anseios de nomear.
Aqui ficamos, em roupa de pétala.
Amanhã terra ínfima,
detida por resistências.
Henri Matisse. Le bonheur de vivre . 1905-1906
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
Sonho azul
Então o que houve com aquele sonho azul?
Esbarrou nas próprias margens e desmanchou feito pedra de areia?
Antes cercado de auroras, agora
esta secura de velhas raízes...
O cansaço nas pernas e asas,
as manhãs sem revoar borboletas.
Um olhar distorcido de tempo
atropelado na ausência de cabimento.
Partiu pra sempre nosso azul
em vôo ressentido?
Esse pássaro efêmero silenciado
ao cimento de palavras.
imagem: Henri Matisse. The Blue Window. 1912
Esbarrou nas próprias margens e desmanchou feito pedra de areia?
Antes cercado de auroras, agora
esta secura de velhas raízes...
O cansaço nas pernas e asas,
as manhãs sem revoar borboletas.
Um olhar distorcido de tempo
atropelado na ausência de cabimento.
Partiu pra sempre nosso azul
em vôo ressentido?
Esse pássaro efêmero silenciado
ao cimento de palavras.
imagem: Henri Matisse. The Blue Window. 1912
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
Garage Sale
Um dia antes
nos lançavamos farpas
com os desencontros da palavra.
Sua mensagem não me alcançava ou, antes disso, desviava
na largura de um hábito.
Dia depois me dei conta da travessia entre
aquelas frases inúteis e sua ausência.
Os nomes não chegaram
a me tocar de espontaneidade.
Ficaram para trás,
atrás de um sentido,
do infindo desejo de
dissolver substantivos.
Abrir armários
e esvaziar gavetas.
Abrir a casa,
livrar os móveis.
Abrir o mundo, livrar a casa.
Um Garage Sale de páginas e apegos...
imagem: Max Ernst. Aquis submersus. 1919
quarta-feira, 20 de julho de 2016
Mudez
Meu corpo,
morada da palavra.
Antes de ser
fui dita.
Invólucro de argila,
molde de letra
discursiva
não falada.
imagem: René Magritte. L'Invention de la vie. 1928
morada da palavra.
Antes de ser
fui dita.
Invólucro de argila,
molde de letra
discursiva
não falada.
imagem: René Magritte. L'Invention de la vie. 1928
quinta-feira, 14 de julho de 2016
Espumas
Quantas vezes mais
morreria por aqueles ombros?
Sessenta e oito vezes
adoeceria só de olhar.
Consumiria em brasa a ideia
de um perfil inteiro
à meia luz.
E não se trata apenas
de fotografia mas toda
maneira como se move.
A pose de ventania nos cabelos
semi-presos, entregues à paisagem.
A delicadeza se tornando bruta,
eu me tornando espuma
em sua margem...
imagem: Edgar Degas. Dancer (Danseuse). c.1874
morreria por aqueles ombros?
Sessenta e oito vezes
adoeceria só de olhar.
Consumiria em brasa a ideia
de um perfil inteiro
à meia luz.
E não se trata apenas
de fotografia mas toda
maneira como se move.
A pose de ventania nos cabelos
semi-presos, entregues à paisagem.
A delicadeza se tornando bruta,
eu me tornando espuma
em sua margem...
imagem: Edgar Degas. Dancer (Danseuse). c.1874
terça-feira, 12 de julho de 2016
Água vária
Meu Chafariz quer ser chuva,
romper o cimento e
atravessar a estrada,
deixar de ser monumento,
de vigiar auroras.
Quer desaguar nos mangues,
marujar a letra fresca
de jangada.
Quer mover o tempo,
se livrar da hora.
Meu Chafariz,
ao árvore ser,
quer renascer
do lodo de sua borda.
romper o cimento e
atravessar a estrada,
deixar de ser monumento,
de vigiar auroras.
Quer desaguar nos mangues,
marujar a letra fresca
de jangada.
Quer mover o tempo,
se livrar da hora.
Meu Chafariz,
ao árvore ser,
quer renascer
do lodo de sua borda.
quinta-feira, 7 de julho de 2016
Enferma idade
Naveguei as pestanas
da vida como se
em correnteza me
guiasse por folha.
As pedras mais moles
rolaram por meu limo
até as margens do livro.
A chuva avisa
que não descansa
de infiltrar o poema
Jorro inundante
de doença,
palavra respiratória.
imagem: Wassily Kandinsky. Small Worlds II. 1922
da vida como se
em correnteza me
guiasse por folha.
As pedras mais moles
rolaram por meu limo
até as margens do livro.
A chuva avisa
que não descansa
de infiltrar o poema
Jorro inundante
de doença,
palavra respiratória.
imagem: Wassily Kandinsky. Small Worlds II. 1922
Para Manoel
Quero a palavra que
sirva no boca de um
lagarto
A palavra pegajosa
despida de proeza
metafórica
Aquela que rasteja
a aspereza da própria cauda
A palavra imprópria,
desapropriada,
ancorada no vazio,
sem asas.
imagem: Marta Barros
sirva no boca de um
lagarto
A palavra pegajosa
despida de proeza
metafórica
Aquela que rasteja
a aspereza da própria cauda
A palavra imprópria,
desapropriada,
ancorada no vazio,
sem asas.
imagem: Marta Barros
domingo, 26 de junho de 2016
Pedras
Hoje aos trinta
ainda não acostumei.
O desejo de desdizer
tudo vai e volta
implacável.
Marmoraria na garganta,
imensa pedra de açúcar
que não sou capaz de engolir
ou dissolver.
ainda não acostumei.
O desejo de desdizer
tudo vai e volta
implacável.
Marmoraria na garganta,
imensa pedra de açúcar
que não sou capaz de engolir
ou dissolver.
Ana C.
Ela me olha desde a cabeceira
com seus óculos escuros retrô
dentro de casa.
Como se em mim lesse
ao tempo em que a leio.
Evito aprofundar em
seu delírio para que
não se torne meu.
com seus óculos escuros retrô
dentro de casa.
Como se em mim lesse
ao tempo em que a leio.
Evito aprofundar em
seu delírio para que
não se torne meu.
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Entardecer
I.
Berro por paz...
Meu corpo circula
o mesmo espaço
de sempre e de nunca.
[espiral deposto, moinho]
A re-dor dói ainda mais.
II.
Só in verso
seremos possível.
Seremos audível
numa canção sobre pássaros.
Serás minha sabiá,
eu sua saíra.
Sairás de onde és
só metade.
Seremos
silêncio
surdo pra dor.
III.
Des espero voltar de onde jamais vim.
Lograr d’ouro lugar outro que não este aqui.
Pássara de dez encantos
voar cantos
poentes de
enfim.
IV.
Quase acidentalmente
me transformo
também
em árvore.
Pés cravados
na terra,
refém do
tempo
exato
as folhas
me vão
caindo.
A vida arbusta
casca enruga tronco e
palavra já não é água
mas âmbar
arvore-sendo
sabe-se lá como.
V.
Respiro...
Minha vida me parece
A vida de um outro.
Ela vive sem mim
e me entardece.
Tempo
No centro do tanto
O meio do nunca
Por cima de dentro
o sumo
do nada
Escasso trato
do tempo
vário
vário
Devhora
o dito
em mito
de hora
Estilo
Versos se
engavetam
na ruela
bruta
da fala
Levam a lama
arrastada
na letra
No beco escuro
do estilo:
Réstia de sentido.
Derradeira
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